Potestade é uma crônica de RPG inspirada no seriado de TV Supernatural, utilizando o sistema de regras Storytelling, do Novo Mundo das Trevas. Com alguma licença poética, este jogo traz todo o clima divertido e emocionante do show, onde alguns caçadores viajam pelos Estados Unidos investigando casos sobrenaturais e salvando pessoas de monstros, fantasmas e demônios, separados ou se encontrando.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O que os demonologistas sabem

Nem todo ocultista é um demonologista, mas demônios são tão centrais para o conhecimento sobrenatural que você teria problemas para encontrar um só estudioso sério do oculto que não tenha feito ao menos um exame superficial de campo. Em termos de jogo, isso significa que personagens com os círculos de pré-requisito de Ocultismo automaticamente possui alguma compreensão de demônios, embora eles filtrem os fatos através de seus próprios sistemas de crenças. E, por vezes, eles sejam alterados ou apareçam novos fatos quando caçadores descobrem coisas diferentes na práticas. 

Este conhecimento geral não confere automaticamente a habilidade de invocar demônios, exorcizá-los ou descobrir fraquezas específicas (já que nesses casos estamos falando de rituais, prática e boatos). Como de costume, isto requer pesquisa (Inteligência + Erudição) ou uma procura desesperada por uma lembrança (Raciocínio + Ocultismo). Se um personagem possui a Especialização Demonologia, adicione 1 ponto ao seu conhecimento automático ao consultar a seguinte lista de fatos. O personagem conhece as informações de seu valor atual, além de todas as que o precede.


Tema: Mississippi Queen

Recentemente, ao passar pelo Portland Jazz Festival, no Oregon, Nick tocou esta música no palco com os Daffy Boys (uma banda local), o tempo todo olhando para sua esposa May...



Mountain - Mississippi Queen
 Mississippi Queen, | If you know what I mean | Mississippi Queen, | She taught me everything | Way down around Vicksburg, | Around Louisiana way | Lived a cajun lady, | Aboard the Mississippi Queen | You know she was a dancer | She moved better on wine … | While the rest of them dudes were'a gettin' their kicks, | Boy I beg your pardon, I was getting mine | Mississippi Queen, | If you know what I mean | Mississippi Queen, | She taught me everything | This lady she asked me, | If I would be her man | You know that I told her, | I'd do what I can | To keep her looking pretty | Buy her dresses that shine | While the rest of them dudes were making their bread | Boy I beg your pardon, I was losing mine! | You know she was a dancer | She moved better on wine … | While the rest of them dudes were making their bread | Boy I beg your pardon, I was losing mine ! | Ohhhhhhh Mississippi Queen

S01 Minisódio 01 - O Presságio

Memphis, TN. Definitivamente era hora de cair na estrada. May fora iniciada como caçadora de seres sobrenaturais com nada menos que três casos. Salvar pessoas, caçar coisas, negócio de família - uma sina. Mas era muito perigoso para um caçador ficar muito tempo na mesma cidade, porque era uma profissão não muito bem vista pela lei, um negócio meio ingrato. Assim que Jeff teve alta do hospital, eles estavam para se mandar.

No apartamento do tio recém-falecido, May catava algumas coisas para homenagear o túmulo e entregar o imóvel, com a ajuda de Nicholas. Deixou o saxofonista tirando penduricalhos da sala e foi ao quarto, onde pegou algumas armas e a agenda do tio. Quando saiu, aconteceu tudo de repente. Um homem apareceu na sala de estar do nada. Alarmado, Nick pôs a mão no bolso do casaco, mas o visitante fez um gesto com o braço e simplesmente o arremessou pela janela! May largou as caixas e foi pegar a arma, mas o homem foi mais rápida: fez mais um arco com a mão e logo a chinesa estava presa à parede.

S01E03 - A Vila

Memphis, TN. Fortuitos eram os momentos de diversão na mórbida vida dos caçadores do sobrenatural, e May e Nick - ela novata, ele experiente - desfrutavam de um naquela noite, em uma boate local. Enquanto isso, o caçador Jeffrey Samson acabara de chegar à cidade para investigar cadáveres com marcas de garra, e já que era noite, estava relaxando em um bar e boate local. Em um momento de tranquilidade no banheiro, sofreu uma chave de braço e foi ao chão com seu atacante. Se preparou para começar a troca de socos, mas teve uma surpresa: era Nicholas, seu irmão mais velho!

Desfeito o mal entendido, Nick apresentou o irmão a May, e Jeff falou sobre os boatos de fantasmas matando gente com garras - aquilo disparou um gatilho na mente da chinesa, e ela saiu em disparada com os dois confusos atrás. No antiquário, abriu o diário da tia e constatou o que desconfiava: antes de morrer, a Srta. Fong fizera algumas entrevistas em Ramsey, ao norte da cidade, aos guardas florestais do Parque Meeman e ao Xerife Cotrell, no departamento de polícia do condado. Um caçador (de animais) fora encontrado na floresta com queimaduras em forma de garras no peito e o coração esmagado, e as apostas estavam em alguma espécie estranha de fantasma. O segundo caso, que Jeff investigava acreditando que se tratava de um lobisomem, era de um casal morto há duas noites no Poplar Tree Lake.

S01E02 - Devil Riding Your Back

Memphis, TN. Quando Nick chegou com a comida mexicana, May pesquisava sobre atonia REM, paralisia do sono e alucinações hipnagógicas, com a garrafa de bolso de uísque a tiracolo. Enquanto voava na comida, a chinesa atualizou o caçador sobre a situação do tio - tinha certeza de que se tratava de um Gui Ya Shen, um espírito chinês (Se Subiu El Muerto mexicano, Pee Umm tailandês, Kanashibari japonês, Pisadeira brasileira e Mare nórdica) sentada no peito do velho Chang, roubando sua energia vital há dois dias. Quando não houver mais energia, o monstro esmaga o coração da vítima. Eles ainda precisavam pesquisar mais, e May sentia muita dificuldade - já que não tinha experiência -, mas Nick sabia que ela estava indo bem.

Então, de chofre, veio uma ligação no hospital e logo May chorou o cadáver do tio no necrotério, mais uma perda logo depois de sua tia Fong. Deixou alguns origamis no peito do tio e, logo depois de receber um café de Nick, disse que já havia outra vítima no hospital - Sra. O’Reilly, no sexto andar. Mas já era tarde da noite, e eles não podiam fazer muito por ela exaustos. Foram relaxar no bar, e logo depois estavam dormindo juntos debaixo dos lençóis pela primeira vez.

S01E01 - Sonhos e Fantasmas

Memphis, TN. Em uma tarde chuvosa, May chorava no enterro de sua tia Mei Fong, que a criara e treinara. Ao chegar no carro, encontrou seu velho tio Chang, recém-chegado da China. Era um alívio reencontrar uma das poucas pessoas próximas na família, e eles trocaram telefones e marcaram um jantar.

De volta ao antiquário da tia, May respondeu atônita algumas perguntas de seu funcionário, Fred, e foi chorar durante algum tempo no quarto da tia, separando caixas de pertences para doar ou jogar fora. Ela pensava na causa da morte - infarto fulminante por esmagamento cardíaco, segundo os médicos. Era absurdo uma mulher que levava uma vida tão espartana morrer assim, mas May não acreditava no que tinha visto na noite anterior, alguma coisa que deixava o ambiente gelado se esgueirando pelas sombras e atacando a Srta. Fong. Acabou encontrando um fundo falso no guarda-roupa da tia, e assim dando de cara com todo o equipamento de caçadora da tia, bem como seu diário com anotações estranhas e absurdas. Ela começou a desconfiar dos motivos pelos quais a tia a havia treinado - ela era uma caçadora de criaturas sobrenaturais. 

Equipamentos de Supernatural na TV

Esta é uma tradução bastante livre de um site bem intencionado que achei por aí, que tenta catalogar algumas das armas e tranqueiras usadas por Sam e Dean na série. Vou reproduzir tanto as descrições do cara quanto as imagens.

Armas

Colt Patterson | calibre .31 ou .36 | 5 balas: a famosa "Colt" que por um tempo foi praticamente um Santo Graal dos Winchester. É um revólver Colt Patterson, o primeiro que Samuel Colt fabricou, produzido entre 1836-1847. A Patterson é uma pistola de percussão de tambor, mas a nossa claramente atira cápsulas de metal ao invés de balas com pólvora e ignição de percussão. O que é estranho, porque as primeiras balas sem pólvora só foram inventadas em 1852. Duas décadas depois que a Colt foi feita, e Smith & Wesson patentearam sua bala calibre .22 de 1856. Cartuchos de metal não se tornaram comuns até a guerra civil americana nos anos 1860.

Tema: All Funked Up

E aí amigos! Hoje esbarrei com essa música. Ela reflete bem o clima geral da vida dos caçadores, hein?

 

All Funked Up 
Oooohhh.... Ahhhhhhhhh.... Tornados spinnin', I sit here grinnin' | I think we've all seen this movie before | This is confusin', almost amusin' | It's hard to tell up and down anymore | When did it get so crazy, how did we lose control | Everybodies shouting, how bad it really sucks | All funked up, We're all funked up | We had some leaders, and they were cheaters | But they came out smelling like a rose | We should reject them, but we respect them | For what they do when the door is closed | Nothing in this world a simple man can do | Stand up and be counted, ain't you had enough | All funked up, Yeah we're all funked up | We're funtionally disfuntional | We're funtionally yeah disfuntional | We're all funked up | Uuughh.... | Don't you know the meaning of the word snafu | Better known as trouble for me and you | Murphy's law will get ya, he's on his way | Same ol' same ol' shit a different day | Uuughh.... | Oh... | Tornados spinnin', I sit here grinnin' | I think we've all seen this movie before | This is confusin', almost amusin' | It's hard to tell up and down anymore | Everybodies shouting, how bad it really sucks | Situation normal | All funked up, we're all funked up... | We're all funked up... | We're all funked up... | Ooooohhhhh.... | All funked up...

Tema: Crawl Home

Vou inaugurar esse espaço para trazer músicas que porventura tenham a ver com a crônica ou com os personagens. Se possível sugiram músicas também, pessoal.

A música de hoje é Crawl Home, do Desert Sessions. Ela tem uma letra bem a ver com o relacionamento conturbado de May e Nick/Yellow Eyes. Acho que toquei ela (ou quis tocar, não lembro onde jogamos) na cena em que Jeff diz a May que o irmão saiu do armário e se mandou. =D
Cliquem abaixo pra ver o clipe e a letra.

PS: Sugiram uma música-tema pro "season finale"! Tem que ser classic rock, antigão, que seja bem emblemático ao falar sobre irmãos em armas, irmãos de sangue, de uma luta difícil onde pessoas diferentes precisam se unir e acabam com um vínculo familiar.



Crawl Home 
No more | It's done | Crawl home | Get gone | Your love | Is evil | Lonesome | My bones | Took me such a long time to figure it out | Now is it too late, I can't do it alone | Took me such a long time to figure it out | Don't take it away, away, oh | Snowstorm | In my heart | Crawl home | Your love | Is evil | I'm lonesome | Just get more and more | Where you've dared | Took me such a long time to figure it out | Now is it too late, I can't do it alone | Took me such a long time to figure it out | Don't take it away, away, oh | Took me such a long time to figure it out | Now is it too late, I can't do it alone | Took me such a long time to figure it out | Don't take it away, away, oh

Fantasmas de Si

Trecho obtido do diário de May Ling Coleman. Essas passagens foram obtidas através de páginas rasgadas e meio chamuscadas achadas em uma cena de crime. Data não determinada. Localização: Odessa - Texas

É impressionante como os dois mudaram com a morte de suas esposas. Elmo Jeff era um rapaz sorridente de barba feita e bem vestido. Nick era bem humorado e parecia descontraído nas fotos. As filhas dele eram duas bonequinhas - sua esposa, Cindy? Jovem e cheia de vida. Os rapazes hoje são sombras do que foram. É triste saber disso, ouvir a Sra. Anna May contando como tudo era diferente com saudade... Isso me faz pensar: eu mudei?

Óbvio que sim, só que eu não fui fudida arrasada como eles. Ok! Quem eu estou tentando enganar mesmo? Só quem vai ler essa merda sou eu (pra que eu escrevo?). Eu fui e continuo arrasada. Perder meus pais foi péssimo, mas eu era uma menininha e tinha tia Mei Mei, mas perdê-la e ao tio Cheng foi mais do que simplesmente doloroso, foi insano. Ainda é. Eu sinto falta de ar e tenho vontade de chorar toda vez que eu lembro que estou em um mundo sem eles. E ainda pior que isso é não saber o que está acontecendo comigo, é como se eu estivesse me afogando em um mar coberto de fogo e enxofre, respirar é tão ruim quanto me afogar, e eu queimo e gelo ao mesmo tempo. Eu me afogo em piadas sem graça, bebedeiras e sexo  sabendo que não existe mais um local para mim.

Vendo-os com a família eu noto o que perdi e nunca mais terei de volta: um lar. Eles são gentis comigo, mas eu sou uma intrusa em seu lar. E sei que Nicholas jamais vai ter comigo o que teve com Cindy, é lógico e justo. E mesmo assim eu me conformo com o pouco que ele tem a me oferecer, finjo que suas palavras são verdadeira e que é o suficiente para mim. Ouço as conversas vazias de futuro de nós dois tendo filhos juntos, sabendo serem apenas palavras ditas sem força por alguém tão desesperado quanto eu.  E todas as noites eu me calo e choro lamentando meu destino amaldiçoado. Mas no dia seguinte todos estamos sorridentes para continuar o trabalho.

História inacreditável

Maldita May, tirou essa foto sem eu ver
Por Jeff Samson

Toda vez que conto esta história para alguém sou taxado como drogado ou louco varrido. Bom, mas eu vou tentar pela última vez explicar o que aconteceu com a paciência do mundo todo, vamos lá.

Eu estava mais uma vez viajando em minha pick-up através do deserto de Nevada, próximo à região do Vale do Fogo. Eu procuro meu maço de cigarros e acabo encontrando perto do acelerador e penso: “maldito Nick, fica tentando esconder meus cigarros toda vez que entra nesse maldito carro”. Eu ascendo um cigarro e encosto o braço na janela do carro continuando com a viagem tranqüila.

Mas a tranqüilidade estava com os segundos contados. Quando eu chego bem perto do Vale, minha querida namoradinha, minha pick-up foi alvejada por muitos tiros de uma metralhadora muito poderosa, os dois pneus traseiros estouram e eu tenho que encostar para não capotar. Depois de encostar e me esconder atrás da pick-up, os tiros de metralhadora cessam.

Daí eu pego a Penélope, meu fuzil M4, coloco um cartucho de balas novo e corro para pegar cobertura numa pedra grande. Os tiros continuam e um me acerta no peito, a sorte é que eu estava de colete kevlar, santo colete. Continuei correndo e pegando cobertura dos tiros. Quando eu cheguei numa distância segura, acertei a metralhadora, era uma maldita gatling, pra ser mais preciso, parecia uma M134D Gatling, eu vi uma dessas quando servi o exército há 9 anos atrás.  Quando eu acertei a gatling com a Penélope, ele parou de atirar com a metralhadora e veio se aproximando, com um fuzil também. Só que, amigão, Penélope é uma M4, ganha de qualquer Ak-47 fudida. Eu acertei ele enquanto ele corria, só que o miserável também estava de colete a prova de balas e da distância que eu estava, não conseguia acertar em outro lugar se não seu peito, e ele também já tinha me acertado no peito, e agora um tiro no meio da coxa, desgraçado. O tiroteio durou até estarmos a 12 metros um do outro, cada um em uma pedra grande. Quando cessou os tiros, por que a danada da Penélope tinha que emperrar numa hora que eu mais preciso dela, eu tinha que distraí-lo para tentar desemperrar o fuzil, então eu disse:

I am trouble

Por May Ling Coleman

Comecemos como todas as milhares de histórias contadas em todo o mundo começam: a moça conhece o rapaz que vai mudar sua vida.  Poderia até ser a introdução de um lindo conto de fadas estilo Disney, com um monte de esquilinhos fofos e passarinhos coloridos. Ou quem sabe um romance moderno, desses estilo Julia Roberts de ser - a cinderela moderna que na verdade é uma garota de programa com mais valores morais que eu ou você. Eu poderia ser a incompreendida, tosca e carente mocinha que se apaixona pelo vampiro boiola que brilha no sol como uma drag queen em parada gay. Quem sabe até mesmo uma dessas mulheres sofridas, com problemas mentais, ou sentimentais profundos desses dramas cabeças que as pessoas assistem para se acharem mais inteligentes, mas que ninguém gosta de verdade, e que as atrizes fazem para as pessoas acharem que são melhores atrizes do que o são de fato. Só que, meus queridos, a verdade é bem mais simples: eu não sou nada disso.

Eu sou uma garota bem normal, nenhum traço remoto de heroína romântica - sinto em desapontá-los. Apenas igual a qualquer uma das moças que atendem em uma lanchonete ou loja da cidade. Do mesmo jeitinho de milhares de estudantes de qualquer coisa na faculdade mais próxima.  Ouço o que a maioria da minha geração ouve: um bom rock dos anos 80 e 90, uma ou outra banda que se salve hoje em dia. Vejo os filmes que todo mundo vê (secretamente acho o Leonardo de Caprio versão mais velha um charme =P). Leio os quadrinhos que todo mundo lê. Como a mesma porcaria enlatada e cheia de conservantes, o mesmo fast-food que anuncia em todos os lugares. Uso os mesmos jeans que todo mundo, as mesmas jaquetas. Uma entre muitas, exceto por dois detalhes. Minha aparência, sou meio dentuça e apesar de ascendência chinesa, meus olhos são verdes (nada demais). E o outro, e mais interessante fator: venho de uma família de Caçadores.

Ok, não é aquele pessoal maluco do Texas, Tenesee, ou qualquer outro lugar cheio de caipiras que entra no mato para atirar no primeiro animal fofinho que vir. A minha família Caça para valer, o que significa, rastrear, encurralar e matar qualquer criatura sobrenatural que um dia pense em ferir um ser humano. Por criatura sobrenatural eu quero dizer aquelas coisas que todo munda acredita serem contos de terror da sessão de filme trash da sexta, "Contos da Cripta": vampiros, lobisomens, fantasmas, bichos-papões, essas criaturas que você rezava para que não estivessem embaixo da sua cama quando você era pequeno, e por um puro golpe de sorte talvez não estivessem. Pessoas normais ao se deparar em uma situação em que fiquem frente a frente com algo que vai te dilacerar, correm, rezam, choram, ou tudo isso junto, mas não eu ou minha família. Não, senhor, nós orgulhosamente, doidamente se você preferir, corremos na direção do monstro empunhando o que acharmos que pode feri-lo. E não paramos até que um dos dois esteja morto. Alguns vêem nobreza nisso tudo, para mim, é uma compulsão. Eu simplesmente não posso deixar que uma criatura faça com outra pessoa o que fez com minha família. Pode ser idiota, mas não consigo continuar vivendo sabendo que existem pessoas boas que terão seus lares desfeitos por algo que não deveria existir. E assim que eu penso hoje em dia. Mas um dia eu fui uma "virgem" para esses assuntos, como você.

Tudo mudou para mim após o funeral da minha tia, meus pais haviam morrido anos antes e eu fui criada por ela. Tia Mei-Mei era forte como um touro e teimosa como um elefante, eu achava que ela fosse viver para sempre. Mas estava enganada, a vida dela foi ceifada por alguma coisa que entrou em nossa casa à noite. Eu acordei de madrugada com o som de luta e mesmo na escuridão pude ver as garras da criatura enterrando-se no peito da minha tia. Lógico que eu nao acreditei nos meus olhos. Enterrei minha tia com dignidade e com todos os rituais necessários e fiquei em companhia do meu tio Cheng que acabava de chegar da China.

Na mesma semana tio Cheng teve um AVC. Eu estava destrocada com tudo isso. Foi quando conheci no hospital um lindo homem louro que ia mudar minha vida. Ele se aproximou de mim com um papo meio bobo de que também tinha um parente internado, assim que o vi pensei: "ele vai estar entre meus lençóis antes que perceba." Eu realmente me sentia sozinha e perdida com o mundo girando ao meu redor, era bom ter alguem com quem falar depois das longas horas de espera no hospital.

Os médicos disseram que meu tio estava com um tipo de paralisia raro, e misterioso. Tudo o que me restava fazer era esperar, então fui até a casa dele para buscar roupas e alguns objetos. E lá havia algo mal, não como o moleque da vizinha que faz bombas de bosta, aquilo que faz os cabelos da sua nuca arrepiarem e os joelhos virarem gelatina. Era uma mulher de cabelos negros, rosto queimado, e que se mexia como não é possível se fazer. Um rancor. Muito, muito pior que Ju-on, se é agoniante o filme, imagina ter aquilo querendo te estrangular? E então, meu cavaleiro salvador chegou em seus jeans puídos e uma camisa de flanela fora de moda, apontando para aquela coisa uma espingarda de cano duplo cerrada de cujo cano saíram dois potentes tiros de sal. Nosso primeiro encontro foi no cemitério para onde eu dirigia como louca ao meu lado os ossos do espírito vingativo. Precisei ler algumas orações budistas em chinês enquanto ele atirava no fantasma, por fim incendiamos seus ossos e jogamos sal por cima.

Por isso, minha vida mudou. E por isso hoje eu vivo procurando coisas saídas dos pesadelos, mas ao invés de correr, meu trabalho é matá-las, para que você continue feliz em sua vida cotidiana.

Caso Wendigo

Por Angela Spica

1. Universidade de Yale, New Haven, NY.
  • Manifestou-se em um pequeno vilarejo próximo à reserva indígena de Genaseo, mais exatamente no alojamento de pesquisa da universidade de Yale. 
  • Matou, de maneira brutal e violenta, quase toda a equipe de pesquisa. Os corpos foram devorados parcialmente, e boa parte deles estava desaparecido – mas a quantidade de sangue no lugar não deixava dúvidas de que estivessem mortos.  Houve uma sobrevivente: eu.
  • Os locais atribuíram o ataque a animais selvagens, alegando que esses acontecimentos não eram tão raros assim. Foram feitas pesquisas nos jornais mais antigos da cidade e descobriu-se que havia um padrão: os ataques aconteciam no ciclo de 10 anos.
  • Foi coletado material para análise genética posterior (saliva encontrada nos pedaços de corpos das vítimas). Depois da análise, descobriu-se um DNA muito próximo ao de um ser humano, mas com diferenças significantes. Os dados foram arquivados para uma possível análise comparativa posterior.
2. Reserva Genaseo - não muito distante do vilarejo
  • A atual localização do vilarejo era parte, há muito, de uma grande comunidade indígena. Houve intervenção governamental e as terras reservadas foram diminuídas. Imaginou-se que alguém poderia saber de alguma coisa na reserva propriamente dita.
  • Conversas com os índios (Matt principalmente; seu nome indígena era quase impronunciável, preferi usar o nome com o qual ele se identificou nos registros da reserva) mencionaram o wendigo: um ser humano que, em situações desesperadoras, foi obrigado a cometer canibalismo (normalmente essas coisas acontecem no inverno). O ato deixou-o louco, e também o fez adquirir capacidades sobre-humanas (força e agilidade descomunais, e, de acordo com os relatos, a capacidade de imitar as vozes daqueles que foram devorados). 
  • Matt convenceu outros guerreiros de sua tribo a se juntarem e destruírem, por fim, a criatura.


3. Plano de Ação
  • Eu servi de isca para a criatura – situação muito desconfortável, vale salientar. O wendigo é uma criatura que hiberna, e se não fosse feito logo, ele tornaria ao estado de hibernação. Eu, junto com Matt e um outro habitante da aldeia, fizemos um acampamento para atraí-lo.
  • Os outros membros ficaram à espreita, esperando. A criatura se aproximou pela copa das árvores e me agarrou pelos braços – o que me rendeu alguns arranhões, nada demais. Os outros então atiraram-lhe fogo com tochas e lança-chamas improvisados e depois de muita luta, conseguiram destruir a criatura.
  • Os índios não me permitiram tirar nenhuma foto, mas eu gravei um vídeo discretamente com o celular. Deverá ser arquivado para referências posteriores.

Sangue no asfalto

Por Jeff Samson

26 de Agosto de 1999. 11h53 PM, Odessa, Texas.

Em três anos de carreira na SWAT, nunca tremi tanto e corri tão desesperado para encontrar o amor da minha vida, Madison. Ela me avisou muito para não ir e eu não precisava mesmo ter atendido aquela porra de ligação, mas era um grande amigo meu, o detetive Bill Davidson, que estava em apuros e precisava da minha ajuda. Daí Jeff, o grande “herói”, apenas com sua Magnum .40 e cinco balas, deixou sua mulher – seu maior tesouro – em casa, achando que  a treta não era grande. Como eu fui idiota.

Madison
Às oito e meia da noite, cheguei num armazém abandonado ao sul da cidade, onde encontrei o Bill escondido atrás de uma árvore com seu revolver calibre 38, tremendo e ensopado de suor. Ele disse que estava prestes a capturar o  “Cats Claw”, como era conhecido um assassino serial que já mandara oito pro saco em um mês sem ser apanhado, sem rosto e sem nome, praticamente um fantasma. Na investigação, meu amigo começou a seguir um cara suspeito em uma boate vagabunda. Depois de algumas doses de uísque, o sujeito saiu com duas vadias e Bill o seguiu até este armazém, onde ouviu gritos das garotas e um rugido assustador, tipo um cão feroz. Talvez o maníaco usasse o bicho para se livrar dos corpos, ou seja lá o que aquele doente fazia. Eu queria acreditar nessa merda enquanto prosseguíamos, mas não se podia ouvir latidos lá dentro, só o som da carne sendo rasgada e grunhidos de uma fera que começaram a endoidar a gente.

Bill não queria a polícia envolvida ainda. Ficou com medo de não dar certo e ele ser taxado como louco por isso, então preferiu me chamar. Eu, já impaciente com a situação, preparei a arma, e comecei a invadir o local. Bill me acompanhou, cobrindo a minha retaguarda. Invadir uma área perigosa sem apoio, medidas preliminares e eliminação de riscos era algo totalmente fora do nosso estilo, e aquilo me deixava nervoso, especialmente com o fato de que entrávamos nos domínios de um assassino doido que rosnava como um rottweiler – ali ele estava em casa e nós, no escuro.

Entramos pelos fundos do armazém, o mesmo caminho que o assassino pegara. Bill respirava muito alto e tremia muito, por isso o que quer que estivesse lá dentro sabia que nós estávamos invadindo e parou com o barulho. Tentei acalmar Bill com um olhar severo e me pus à frente, vigiando à frente e em cima, enquanto ele cuidaria da retaguarda e dos flancos.

No vão principal, muito sangue, lixo e pedaços de carne humana no chão. Serial Killer é pouco: o sujeito era uma versão espalhafatosa do Hannibal, isso sim. Enquanto eu analisava o sangue ainda fresco, Bill se recostou em mim, tremento e resfolegando como em um choro amedrontado. Olhei para trás a tempo de vê-lo ser arremessado sobre um amontoado de barris e caixotes perto da parede à direita. Fora pego por um brutamontes de quase dois metros de altura vestindo em trapos, com cabelos na altura do ombros, olhos amarelados e presas. Ele estava banhado em sangue e ainda mastigava um pedaço de carne, sorrindo debilmente pra mim.

– Parado aí, amigo! – voz de prisão de praxe. A coisa inclinou sua cabeça para a esquerda e, em uma nesga de sorriso, murmurou minhas palavras como se duvidasse delas, e veio lentamente em minha direção. Sem pestanejar meti três balas no seu peito, mas o cara tinha o peito de aço! Ele nem pareceu sentir os tiros que derrubariam até um elefante, e continuou a se aproximar ainda sorrindo. Estarrecido como eu estava, quase nem ofereci reação quando ele me segurou pelo pescoço e me ergueu com apenas uma das mãos, enquanto suas unhas de gato estraçalhavam a pele do meu braço direito. Eu não podia gritar com seu aperto, mas Bill quebrou uma caixa de madeira em suas costas para chamar a atenção e ele afrouxou. Porém, fui arremessado no velho amigo e nós fomos ao chão feito dois bichos atropelados. O filho da mãe limpou o sangue das mãos e olhou pra mim como se me conhecesse há tempos, mas eu não fazia a menor ideia do que era aquela merda toda.

– Você é filho do maldito Tony Samson, né? Parece que nossas linhagens se cruzam de novo, veja só.
Apavorado que estava, não ouvi direito mais nenhuma palavra que ele continuou a falar sobre mim e meu pai e estendeu suas garras na nossa direção. Bill tinha quebrado a perna esquerda na queda e parecia prestes a apagar, nos tirando as chances de puxar o carro. De repente um estrondo nos deixou com o ouvido zunindo, e tivemos a impressão de ver a coisa sendo baleada nas costas e fugir como um cão ferido. Nosso salvador, um velhote com a cara bastante marcado, me levantou e ajudou a fazer uma tala na perna de Bill.

– Leve seu amigo para o hospital, garoto – disse ele – Eu assumo daqui.

Antes de sair, ele ainda me jogou um cartão com o nome Harvey Rickman e um número de telefone. Ao chegar no hospital com Bill e encaminhá-lo, liguei para o sujeito, que me disse estar seguindo os rastros do assassino. Lembrei que a coisa parecia me conhecer – e ao meu velho – e mencionei isso a ele, e Harvey disse que a criatura poderia querer retaliar a mim ou a algum ente querido, porque provavelmente saberia onde eu morava. Imediatamente pensei em Maddie, que agora corria perigo. Corri para o carro e enquanto dirigia para casa, liguei desesperadamente para saber se estava tudo bem com ela, mas ninguém atendia. Descontrolado, bati com a picape em um ônibus e entrei de vez em uma loja.

Eu estava tonto e machucado, mas não podia apagar de jeito nenhum. As pernas funcionavam, saí mancando feito um louco, correndo a pé. Chegando em casa, tudo revirado, a porta arrombada e a janela quebrada. "Fugiu, boa garota", pensei. Avistei rastros de sangue, rezando para que fossem do maníaco, e os segui pela vizinhança que dormia sem saber do demônio que rondava o bairro. Na rua de trás, avistei Harvey esbaforido e tive a pior visão da minha vida, que destruiu de vez o cara feliz, um amoroso marido e um policial exemplar que eu era até então.

Maddie estava em cima de um carro, vermelho do sangue da minha mulher, com o homem uivando sobre seu corpo.

Eu estava quebrado. Enquanto corria debilmente em direção a ela, Harvey atirou meticulosamente na testa e no peito do monstro, que caiu inerte. Eu chorava e uivava a morte da minha esposa, portanto lembro apenas que o velhote disse que não podia ficar para encarar a polícia.

...

Uma semana depois, o telefone tocou:

– Espero que seja rápido – atendeu um ranzinza Harvey.

– Harvey? É o Jeff, o cara de Odessa de uma semana atrás, lembra de mim? – perguntei, com voz trêmula e rouca.

Harvey
– Ah... Que merda, moleque! São seis horas da madrugada cara, o que você quer?

– Eu cansei de sofrer pelo que aconteceu, quero saber o que era aquilo, por que matou minha mulher e o que tinha a ver comigo.

– Heh, muito bem, muito bem. Qual a sua profissão, garoto?

– Caí fora da SWAT, senhor – disse com alívio – por quê?

– Muito bom, porque a minha profissão é a melhor para alguém na sua situação. Venha para cá, deixe sua vida aí em Odessa, traga suas coisas para entrar em uma nova merda. – parecia até que o velhote estava feliz com a notícia.

– Já tô na estrada – desliguei.

Ganhei o mundo a bordo da minha velha picape preta reformada, agora com o nome de Devil´s Dick – meu jeito de dar um foda-se ao mundo –, escutando Cash e com a foto de Madison pendurada no retrovisor, sorrindo pra mim como sempre vai ser nos meus pensamentos.

...

– Acho que o Harvey só não te ensinou uma coisa.

– O quê?

– A prestar mais atenção na vigília. Só escutei isso tudo porque você me pagou aquelas cervejas, mas já é quase hora do fantasma atacar.

– Três da madruga,certo?

– E meia.

– Até agora nada. Tá sentindo esse frio desgraçado?

– É ele. Vamulá.

– Espera aí Marshall, você... Porra, sua piranha lésbica! Urgh!