Potestade é uma crônica de RPG inspirada no seriado de TV Supernatural, utilizando o sistema de regras Storytelling, do Novo Mundo das Trevas. Com alguma licença poética, este jogo traz todo o clima divertido e emocionante do show, onde alguns caçadores viajam pelos Estados Unidos investigando casos sobrenaturais e salvando pessoas de monstros, fantasmas e demônios, separados ou se encontrando.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

I am trouble

Por May Ling Coleman

Comecemos como todas as milhares de histórias contadas em todo o mundo começam: a moça conhece o rapaz que vai mudar sua vida.  Poderia até ser a introdução de um lindo conto de fadas estilo Disney, com um monte de esquilinhos fofos e passarinhos coloridos. Ou quem sabe um romance moderno, desses estilo Julia Roberts de ser - a cinderela moderna que na verdade é uma garota de programa com mais valores morais que eu ou você. Eu poderia ser a incompreendida, tosca e carente mocinha que se apaixona pelo vampiro boiola que brilha no sol como uma drag queen em parada gay. Quem sabe até mesmo uma dessas mulheres sofridas, com problemas mentais, ou sentimentais profundos desses dramas cabeças que as pessoas assistem para se acharem mais inteligentes, mas que ninguém gosta de verdade, e que as atrizes fazem para as pessoas acharem que são melhores atrizes do que o são de fato. Só que, meus queridos, a verdade é bem mais simples: eu não sou nada disso.

Eu sou uma garota bem normal, nenhum traço remoto de heroína romântica - sinto em desapontá-los. Apenas igual a qualquer uma das moças que atendem em uma lanchonete ou loja da cidade. Do mesmo jeitinho de milhares de estudantes de qualquer coisa na faculdade mais próxima.  Ouço o que a maioria da minha geração ouve: um bom rock dos anos 80 e 90, uma ou outra banda que se salve hoje em dia. Vejo os filmes que todo mundo vê (secretamente acho o Leonardo de Caprio versão mais velha um charme =P). Leio os quadrinhos que todo mundo lê. Como a mesma porcaria enlatada e cheia de conservantes, o mesmo fast-food que anuncia em todos os lugares. Uso os mesmos jeans que todo mundo, as mesmas jaquetas. Uma entre muitas, exceto por dois detalhes. Minha aparência, sou meio dentuça e apesar de ascendência chinesa, meus olhos são verdes (nada demais). E o outro, e mais interessante fator: venho de uma família de Caçadores.

Ok, não é aquele pessoal maluco do Texas, Tenesee, ou qualquer outro lugar cheio de caipiras que entra no mato para atirar no primeiro animal fofinho que vir. A minha família Caça para valer, o que significa, rastrear, encurralar e matar qualquer criatura sobrenatural que um dia pense em ferir um ser humano. Por criatura sobrenatural eu quero dizer aquelas coisas que todo munda acredita serem contos de terror da sessão de filme trash da sexta, "Contos da Cripta": vampiros, lobisomens, fantasmas, bichos-papões, essas criaturas que você rezava para que não estivessem embaixo da sua cama quando você era pequeno, e por um puro golpe de sorte talvez não estivessem. Pessoas normais ao se deparar em uma situação em que fiquem frente a frente com algo que vai te dilacerar, correm, rezam, choram, ou tudo isso junto, mas não eu ou minha família. Não, senhor, nós orgulhosamente, doidamente se você preferir, corremos na direção do monstro empunhando o que acharmos que pode feri-lo. E não paramos até que um dos dois esteja morto. Alguns vêem nobreza nisso tudo, para mim, é uma compulsão. Eu simplesmente não posso deixar que uma criatura faça com outra pessoa o que fez com minha família. Pode ser idiota, mas não consigo continuar vivendo sabendo que existem pessoas boas que terão seus lares desfeitos por algo que não deveria existir. E assim que eu penso hoje em dia. Mas um dia eu fui uma "virgem" para esses assuntos, como você.

Tudo mudou para mim após o funeral da minha tia, meus pais haviam morrido anos antes e eu fui criada por ela. Tia Mei-Mei era forte como um touro e teimosa como um elefante, eu achava que ela fosse viver para sempre. Mas estava enganada, a vida dela foi ceifada por alguma coisa que entrou em nossa casa à noite. Eu acordei de madrugada com o som de luta e mesmo na escuridão pude ver as garras da criatura enterrando-se no peito da minha tia. Lógico que eu nao acreditei nos meus olhos. Enterrei minha tia com dignidade e com todos os rituais necessários e fiquei em companhia do meu tio Cheng que acabava de chegar da China.

Na mesma semana tio Cheng teve um AVC. Eu estava destrocada com tudo isso. Foi quando conheci no hospital um lindo homem louro que ia mudar minha vida. Ele se aproximou de mim com um papo meio bobo de que também tinha um parente internado, assim que o vi pensei: "ele vai estar entre meus lençóis antes que perceba." Eu realmente me sentia sozinha e perdida com o mundo girando ao meu redor, era bom ter alguem com quem falar depois das longas horas de espera no hospital.

Os médicos disseram que meu tio estava com um tipo de paralisia raro, e misterioso. Tudo o que me restava fazer era esperar, então fui até a casa dele para buscar roupas e alguns objetos. E lá havia algo mal, não como o moleque da vizinha que faz bombas de bosta, aquilo que faz os cabelos da sua nuca arrepiarem e os joelhos virarem gelatina. Era uma mulher de cabelos negros, rosto queimado, e que se mexia como não é possível se fazer. Um rancor. Muito, muito pior que Ju-on, se é agoniante o filme, imagina ter aquilo querendo te estrangular? E então, meu cavaleiro salvador chegou em seus jeans puídos e uma camisa de flanela fora de moda, apontando para aquela coisa uma espingarda de cano duplo cerrada de cujo cano saíram dois potentes tiros de sal. Nosso primeiro encontro foi no cemitério para onde eu dirigia como louca ao meu lado os ossos do espírito vingativo. Precisei ler algumas orações budistas em chinês enquanto ele atirava no fantasma, por fim incendiamos seus ossos e jogamos sal por cima.

Por isso, minha vida mudou. E por isso hoje eu vivo procurando coisas saídas dos pesadelos, mas ao invés de correr, meu trabalho é matá-las, para que você continue feliz em sua vida cotidiana.

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